sábado, outubro 17, 2009

Muros: O sistema

My Life

My life I no longer love
I’d rather be set free above
Get it over with while the time is right
Late some rainy night
Turn black as the sky and as cold as the sea
Say goodbye to Ashley
Miss me but don’t be sad
I’m not sad I’m happy and glad
I’m free, where I want to be
No more caged up Ashley
Wishing I were free
Free like a bird.

Ashley Smith, 18 anos de idade, 1/10/2006, New Brunswick Youth Centre,

Relatório sobre Ashley Smith

"Como é que uma rapariga que tirava barras de cereais de casa para dar de comer a um homem sem-abrigo, coleccionava seixos da praia e devorou os primeiros cinco livros do Harry Potter acaba morta no chão de uma prisão federal aos 19 anos?

Desde que Ashley Smith se estrangulou com uma peça de roupa na manhã de Sexta, 19 de Outubro de 2007, numa cela de solitária enquanto sete guardas na Grand Valley Institution de Kitchener - aos quais foi ordenado não intervir - observavam, os relatórios do governo têm tentado responder a esta questão.

Dois anos depois, a sua família e os crítimos do sistema correccional ainda estão à procura de respostas.

A investigação em curso do The Star revela como os sistemas correcionais quer regionais quer federais maltrataram Smith ao serem incapaz diagnosticar-lhe a doença mental que estava a desenvolver. Documentos da prisão e do tribunal mostram como as outroras suaves queixas da jovem quanto ao tratamento inumano de que era alvo foram largamente ignoradas e como ela acabou por se sentir como um "animal enjaulado".

(...)

Smith não parecia muito diferente das outras crianças. Ela fez babysitting, jogou basquetebol e hóquei, aprendeu caiaque, e nunca se ajeitou com o esqui de fundo.

Quando chegou a puberdade, algo mudou. Aos 12, Smith foi suspensa por seis meses, depois dela e de uma amiga terem sido apanhadas a comprar marijuana na escola. Ela começou a "armar-se", a jogar o "jogo da galinha", caminhando na rua no sentido contrário ao do tráfego. Aos 15, uma avaliação psicológica propunha aconselhamento por  distúrbio de oposição desafiante

Não muito depois, foi presa por quatro meses no centro de correcção juvenil New Brunswick Youth Centre em Miramichi por atirar maçãs a um trabalhador dos correios, que ela acreditava estar a reter os cheques da segurança social dos seus vizinhos.

Quatro meses tornaram-se em quase quatro anos, feitos principalmente em segregação, em oito instituições. 

Durante os primeiros dois anos, uma fugitiva chamada Jessica Fair partilhou a parede de uma cela com Smith no centro de correcção. 

«Tinhamos feito um buraco na parede para poder falar uma com a outra», disse ela. «Não nos conheciamos ainda, por isso tinhamos muitos tópicos sobre os quais conversar.»

Quando Fair arranjou problemas com os guardas e perdeu privilégios como o de ir à biblioteca da prisão, Smith iria requisitar um livro e ler-lho através da minúscula fenda que tinham escavado na parede calafetada. Vice-versa quando Smith perdia os seus privilégios.

«Lemos todos os livros do Harry Potter até ao Príncipe Meio-Sangue.» diz Fair, 20 anos, que agora vive em Moncton com o namorado e o seu filho de seis semanas, Ashton.

(...)

Ela acumulou pilhas de novas acusações no centro, relacionadas com agressãos menores aos guardas e alguns "números" como fazer disparar aspersores e alarmes de incêndio ou cobrir a janela da sua cela prisional com tiras de papel higiénico

«No centro de detenção, ela nunca se dirigiu intencionalmente a um guarda para o agredir», disse Fair de Smith. «Era sempre quando eles estavam na sua cela - e nunca é só um guarda que vem até à tua cela - são tipo oito, nove, 10 numa cela muito, muito pequena. Por isso é claro que tu vais estar a esbracejar. E se tu bateres em alguém enquanto estás a esbracejar e tentar afastares-te, eles lançam-te uma nova acusação.»

Ela tinha sido coagida através de Tasers e gás-pimenta e presa dos pés à cabeça numa espécie de casulo a que o centro chama cobertor. Um supervisor requeriu a sua libertação antecipada para passar à custódia federal.

Foi dito a Smith e Gorber que são uma das poucas famílias em New Brunswick que são uma das poucas famílias que contratou um advogado para bloquear a transferência de um jovem.

Não resultou. (...)

Smith entrou na custódia federal na Nova Institution em Truro, N.S., em Outubro de 2006.

O The Star obteve cópias de queixas manuscritas por Smith durante enquanto esteve na Nova. Ela queixou-se de ter apenas dois tampões por dia durante o período menstrual, e apenas quatro quadrados de papel higiénio por utilização, e ser privade de papel e caneta. (...)

«Nós não fazíamos ideia», diz Coralee Smith. «Penso que algumas pessoas vêem a situação e dizem. «Oh, eles devem ter sabido. Onde estavam os pais?»

«E eu estou a pensar, não fazíamos ideia -uma vez que o nosso filho entra no sistema, perde-se completamente o controlo. Fica-se sem nada.»

The Toronto Star

"Com as suas unhas saídas da manicure, uma charmosa cruz a baloiçar-lhe no pescoço e uns óculos modernos sobre o nariz, Corry Grunsky é de novo a mulher de outrora - uma mãe dequatro que trabalha como gerente de restaurante.

Depois aponta para o retrato do seu cadastro criminal.

Os seus olhos são duros, os seus lábios ressequidos, a sua pele amarelada e o seu cabelo curto e castanho uma confusão. A sua figura normalmente bem constítuida de 1,75m, tinha sido encolhida para um "palito" de 56 kg.

A foto foi tirada a 27 de Dezembro de 2001, quando a dupla vida de Ms. Grunsky como viciada em metanfetaminas e uma dealer de sucesso, traficando o flagelo das Pradaarias Canadianas para uma rede de dealers de sgunda dos arredores de Edmonton, chegava abruptamente ao fim. As drogas tinham-se tornado no seu apoio - e no seu meio de subsistência - desde que tinha sido diagnosticada com depressão, desordem bipolar e déficite de atenção por hiperactividade.

A polícia, que a perseguia há anos, usou de um aríete para entrar em sua casa. Os procuradores fizeram com que as acusações de posse e tráfico de droga seguissem em frente. E Ms. Grunsky, com o seu vício e os seus múltiplos demónios psicológicos, juntou-se à legião de doentes mentais canadianos para quem a prisão se tornou num novo asilo.

«Eles deviam dar-nos programas de tratamento, nós estamos encarcerados de qualquer forma, portanto porque é que não temos um programa que nos ajude a adaptar?» disse Ms. Grunsky, agora 54, apesar de tudo, sóbria e parte de um programa universitário sobre psicologia e trabalho social. «...A minha pena na penitenciária federal foi uma anedota; uma anedota completa.» 

É a insanidade da política pública, um sistema judicial que faz as pessoas entrar

em num ciclo de polícia, tribunais e prisões, sem tratar as doenças que lhes estão subjacentes.»

The Globe And Mail

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