domingo, outubro 11, 2009

Muros: A barreira de Marrocos

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"Controla os movimentos da guerrilha e da aldeia local e legitima a invasão e saque dos recursos naturais dos miseráveis habitantes do Sahara. O muro de 2720 km que separa estes povos das suas terras ocupadas por Marrocos é uma das maiores infâmias de uma nação que nunca teve os benefícios da descolonização africana.

As muralhas levantadas por impérios ou países poderosos não são exclusivas do passado da humanidade. No mundo contemporâneo, onde as barreiras económicas e culturais e de comunicação tendem a desaparecer, acelera-se a separação das aldeias através de barreiras militarizadas.

O motivo pelo qual o constroem é sempre o mesmo: prevenção e segurança de uma nação ou comunidade mais rica ou poderosa contra um suposto inimigo que tentar tomar à força ou invadir territórios alheios.

(...)

Quando o General Francisco Franco agonizava em 1975, a Espanha começava a retirada do Saara Espanhol, uma ex-colónia situada ao sul de Marrocos e que faz fronteira com a Argélia e o Oceano Atlântico. 

Imediatamente, o rei marroquinho Hasan II deu ínicio à Marcha Verde, ou seja, a repovoação do Saara com cidadãos marroquinos para que, no caso de se realizar um referendo à independência, a balança se inclinasse a favor do ocupante.

A Frente Polisário, a guerrilha saarauí, que lutou contra a colonização espanhola, encabeçou a resistência armada contra Marrocos até 1991. A partir desse ano, a ONU enviou os seus capacetes azuis para pôr fim à violência.

Tanto Espanha como França dão o seu avalo à ocupação marroquina e evitam, ano após ano, as sessões da ONU, que o Saara vote pela sua autodeterminação.

O motivo é muito simples: Marrocos, como país ocupante, outorga vantajosas licitações para obter os recursos pesqueiros, fosfatos e gás a companhías europeias e norte-americanas no território do Saara. Em troca, Marrocos benefícia de enormes incentivos económicos superiores aos aspirantes a formar parte da União Europeia. Por exemplo: redução dos impostos sobre os seus produtos agrícolas, que ingressariam no mercado europeu quase sem restrições e com uma blindagem finaceira de 190 milhões de euros para fazer face à crise mundial. Tudo isto foi subscripto pelo tratado de cooperação em Outubro do ano passado. 

Além disso, em finais de Dezembro o presidente espanhol Rodríguez Zapatero anunciou um crédito de 520 milhões de euros para Marrocos para assentar as bases da infraestructura das empresas espanholas que se vão estabelecer nesse país durante os próximos dois anos.

A Europa e os E.U.A. não só legitimam a invasão, como também impedem a investigação das violações dos Direitos Humanos por parte do governo marroquino aos dissidentes do Saara, que ainda reclamam que se cumpra a resolução 1871 do Conselho de Segurança, segundo a qual a ONU deve obrigar Marrocos à realização de um referendo à independência. 

A semana passada Jean-Maurice Ripert, embaixador francês na ONU impediu que se investigassem as torturas, a construcção do muro e os assassinatos dos rebeldes saaurís no seu próprio território às mãos dos militares marroquinos.

A muralha não serve tanto para dividir Marrocos do Saara, mas sim para separar o terço mais árido do território saaurí do resto, que controla militarmente a cidade de Rabat e onde se têm podido estabelecer empresas pesqueiras e energéticas como a francesa Total, sem que o Saara recebe a sua parte do dinheiro feito à custa dos seus próprios recursos.

O muro tem uma longitude de 2720 km. Está previsto um radar de 15 km e postos de vigilância a cada 5 km. O mais indignante é que em redor da fortaleza o território está minado e em várias zonas não há sinais que indiquem esse perigo."

Casa das Áfricas


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