quarta-feira, maio 31, 2006

Um poema de Mário de Sá-Carneiro



















Estátua Falsa - Mário de Sá Carneiro

Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha'alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!

Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem Deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar...



Nota: Como lido por Pedro Nunes, idealista, romantico e meu amigo.

quarta-feira, maio 24, 2006

A Importância da Religião no Caminho do Homem Para a Felicidade





Os homens esperam das diversas religiões resposta para os enigmas da condição humana, os quais, hoje como ontem, profundamente preocupam seus corações:
que é o homem?
qual o sentido e a finalidade da vida?
que é o pecado?
donde provém o sofrimento, e para que serve?
qual o caminho para alcançar a felicidade verdadeira?
que é a morte, o juízo e a retribuição depois da morte?
finalmente, que mistério último e inefável envolve a nossa existência, do qual vimos e para onde vamos?

DECLARAÇÃO:NOSTRA AETATE

segunda-feira, maio 15, 2006

Segundo Domingo - As Portas do Templo











A Religião é muita vezes a herança de uma cultura ou de uma família,
mas ao crescer os homens têm a consciência e obrigação de reflectir
sobre a sua re-ligação a Deus.
Os caminhos são vários mas Deus é um e o mesmo para todos.

domingo, maio 14, 2006

Primeiro Domingo - Os Actores





Primeiro Domingo - A Rotunda













À entrada da Freguesia da Ramada acolhe os visitantes um cartaz que diz:
Bem vindo à Ramada, seja feliz!

Quem no Domingo, dia 31 de Maio, entrou ou saiu da Ramada pela Rotunda Sá Carneiro, deparou com a invulgaridade de cinco homens de casaco que mecanicamente repetiam os gestos do seu dia-a-dia, o chegar, o sentar, o café, o jornal, e a chamada que tanto se esperava e chegava afinal.

O preto e branco ressaltava, intruso, nas vivas cores do jardim. E quem por eles passava, nem por sonhos adivinhava o que estavam eles a fazer ali.

O Primeiro Domingo - O Quotidiano

Sentaram-se em frente à vossa porta,
E todos os que passaram por eles os viam,
Mas eles não viam ninguém.
E ninguém se importou...

Ocorreu-nos à memoria a letra de "A mulher da erva" de Zeca Afonso:

"Há quem viva sem dar por nada,
E há quem morra sem tal saber!"

Um poema da Sophia


Escuto




Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou Deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética III

O Homem mais feliz do mundo - Noticia do Portugal diário

Arqueado sobre a bicicleta, de cabelo grisalho enquadrado pelo capacete e barba desgrenhada de muitos anos, António Coelho Monteiro, de 71 anos, pedala com dificuldade na antiga Estrada Nacional 1, próximo de Pombal.

Pela sexta vez, nos últimos seis anos, este padre franciscano cumpre o percurso entre Roma e Fátima, sempre a pedalar, com paragem em Santiago de Compostela, para agradecer a recuperação de um cancro num pulmão.

Com um pulmão a menos, uma válvula no coração e tendo sido afectado por uma angina de peito há dois meses, quando se encontrava em Santiago de Compostela, António Monteiro é um português de Alcobaça com uma história de vida cheia, com arraiais assentes nas Ilhas Canárias, onde tem os oito filhos, 24 netos e uma bisneta.

«Não tenho nada, mas nada me falta. Sou o homem mais feliz do mundo»

Pode ler a noticia completa aqui.

sexta-feira, maio 12, 2006

A Resposta de Madre Teresa de Calcutá - A felicidade é a Paz que nos vem da oração e do serviço aos outros

Amai-vos uns aos outros, como Jesus vos ama.

Não tenho nada a acrescentar à mensagem que Jesus nos deixou.

Para se poder amar deve-se ter um coração puro e rezar.

O fruto da oração é o aprofundamento na fé.

O fruto da fé é o amor.

E o fruto do amor é o serviço ao próximo. Isto nos traz a paz.

Teresa de Calcutá, Agosto de 1997.

A Resposta de Álvaro de Campos - A Tabacaria








Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.



Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universoReconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu

Resposta do Velho Sábio - O Segredo da Felicidade

Há muito tempo, numa terra muito distante, havia um jovem rapaz, filho de um rico mercador, que procurava obstinadamente o segredo da felicidade.
Já havia viajado por muitos reinos, falado com muitos sábios, sem, no entanto, desvendar tal questão.

Um dia, após uma longa viagem pelo deserto, chegou a um belo castelo no alto de uma montanha.

Lá vivia um sábio, que o rapaz ansiava conhecer pois diziam ser o possuidor do segredo da felicidade.

Ao entrar em uma sala, viu uma actividade intensa. Mercadores entravam e saíam, pessoas conversavam pelos cantos, uma pequena orquestra tocava melodias suaves.
De longe ele avistou o sábio, que conversava calmamente com todos os que se acercavam.

O jovem esperou duas horas até chegar a vez de ser atendido.

O sábio ouviu-o com atenção, mas lhe disse com serenidade que naquele momento não poderia explicar-lhe qual era o segredo da felicidade.

Sugeriu que o rapaz desse um passeio pelo palácio e voltasse dali a duas horas.

"Entretanto, quero pedir-lhe um favor." – completou o sábio, entregando-lhe uma colher de chá, na qual pingou duas gotas de óleo.
"Enquanto estiver caminhando, carregue essa colher sem deixar o óleo derramar."

O rapaz pôs-se a subir e a descer as escadarias do palácio, mantendo sempre os olhos fixos na colher. Ao fim de duas horas, retornou à presença do sábio.

"E então?" – perguntou o sábio – "você viu as tapeçarias da pérsia que estão na sala de jantar?
Viu o jardim que levou dez anos para ser cultivado?

Reparou nos belos pergaminhos de minha biblioteca?"

O rapaz, envergonhado, confessou não ter visto nada.

Sua única preocupação havia sido não derramar as gotas de óleo que o sábio lhe havia confiado.
"Pois então volte e tente perceber as belezas que adornam minha casa." – disse-lhe o sábio.
Já mais tranqüilo, o rapaz pegou a colher com as duas gotas de óleo e voltou a percorrer o palácio, dessa vez reparando em todas as obras de arte.

Viu os jardins, as montanhas ao redor, a delicadeza das flores, atentando a todos os detalhes possíveis.

De volta à presença do sábio, relatou pormenorizadamente tudo o que vira.
"E onde estão as duas gotas de óleo que lhe confiei?" – perguntou o sábio.

Olhando para a colher, o rapaz percebeu que as havia derramado.

"Pois este, meu rapaz, é o único conselho que tenho para lhe dar: – disse o sábio – o segredo da felicidade está em saber admirar as maravilhas do mundo, sem nunca esquecer das duas gotas de óleo na colher."

Resposta do Dalai Lama


"Acredito que a falta de compreensão quanto à verdadeira natureza da felicidade é a principal razão de as pessoas infligirem sofrimento a outras. Alguns indivíduos acham que só podem alcançar a felicidade causando sofrimento ou que sua própria felicidade é tão importante, que a dor causada aos outros é insignificante. Esta é uma visão extremamente estreita da vida.", nos ensinou o dalai-lama.
Ser um consumidor consciente é saber que a felicidade está em SER, não em TER. O consumismo é uma doença mundial, pois cria "necessidades" artificiais - como ter um carro último modelo ou ter uma casaco de pele de lhama.
Daí a recorrência com que nosso ilustre visitante fala sobre a necessidade de nos conhecermos internamente. Só desse modo teremos a percepção de nosso papel no mundo. E, assim, poderemos agir com consciência.
"Quando os seres humanos se desentendem, mostram que esqueceram suas semelhanças fundamentais para supervalorizar razões secundárias. Por razões secundárias um homem destrói outro homem e destrói o planeta que o abriga. As crises, a violência, as queixas sobre o declínio da moralidade que nos assolam, mostram que o enorme desenvolvimento externo — sem dúvida útil e necessário — não corresponde a um mesmo nível de desenvolvimento interno da humanidade. Esse cultivar-se internamente é que garantirá nosso direito à felicidade e até à sobrevivência. Porque, por mais mortíferas que sejam as armas produzidas pelo medo e pelo ódio, é necessária a mão de um homem para detonar o gatilho", escreveu o líder tibetano.
Na mesma medida em que o homem pode devastar, ele também tem o poder de transformar positivamente o mundo em que vive. Exercendo a ética da boa convivência com a natureza e com as outras pessoas; cultivando valores como solidariedade, responsabilidade e compartilhamento; para, assim, agir com consciência e contribuir para a construção de uma sociedade sustentável.

Resposta do Papa João Paulo II


O jovem do Evangelho pergunta: "Senhor o que devo fazer para alcançar a vida eterna?" (Mt. 19, 16).

E agora vós fazeis esta pergunta: É possível ser feliz no mundo de hoje?
Em verdade fazeis a mesma pergunta do jovem! Cristo responde -a ele e também a vós, a cada um de vós-: Sim, é possível. Isto é, com efeito, o que responde, embora suas palavras sejam aquelas: "Se quiseres entrar na vida eterna, observa os mandamentos" (Mt. 19, 17) E responderá também mais adiante: "Se quiseres ser perfeito, vende tudo o que tens, daí aos pobres, vem e segue-me" (cf. Mt. 19, 21)

Estas palavras significam que o homem não pode ser feliz mais do que na medida em que é capaz de aceitar as exigências de sua própria humanidade, sua dignidade de homem, as exigências que Deus lhe pede.

As exigências de ordem moral

Assim, Cristo não responde somente à pergunta se é possível ser feliz, mas diz também como é possível ser feliz, em que condições. Esta resposta é totalmente original e não pode ser superada; nem pode perde sua vigência. Deveis refletir muito sobre ela e adaptá-la a vós mesmos. A resposta de Cristo compreende duas partes. Na primeira, trata-se de observar os mandamentos. E aqui, eu faria uma digressão motivada por uma de vossas perguntas sobre os princípios que a Igreja ensina no terreno da moral sexual. Expusestes vossa preocupação ao ver que são difíceis e que os jovens poderiam, precisamente por esta razão, afastar-se da Igreja. E eu vos respondo: se pensardes nesta questão seriamente e irdes ao fundo do problema, vos asseguro que vos dareis conta de uma única coisa: neste terreno, a Igreja propõe apenas as exigências que estão estreitamente ligadas ao amor matrimonial e conjugal verdadeiro, quer dizer, responsável. Exige o que requer a dignidade da pessoa e a ordem social fundamental. Eu não nego que haja exigências. Mas é justamente aí que está o ponto chave do problema: o homem se realiza somente na medida em que sabe impor a si mesmo essas exigências. Caso contrário, afasta-se "entristecido", como acabamos de ler no Evangelho. A permissividade moral não torna os homens felizes. A sociedade de consumo não torna os homens felizes. Não o fizeram jamais.

quinta-feira, maio 11, 2006

Cântico Negro - José Régio














"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta: Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...

Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

quarta-feira, maio 10, 2006

Preposição

A partir da questão fundamental: "Se os homens foram criados para a felicidade, então, porque é que os homens não são felizes?" o Grupo de Teatro Alquimia do Sonho - Ramada - Odivelas. Decidiu montar uma instalação acerca deste tema. Envolvendo várias manifestações artísticas, esta performance começou a sair à rua cerca de um mês antes da sua apresentação formal.

Assim, o Grupo de Teatro propos-se a animar a Rotunda Francisco Sá Carneiro, à entrada da Freguesia da Ramada, todos os Domingos de Maio, entre as 12 e as 13 horas, terminando a performance com uma tertúlia no dia 2 de Junho às 21:00h. O espaço de instalação estará exposto ao público no fim de semana de 2-4 de Junho, com diversos momentos de animação dedicados a todas as idades e envolvendo diversas formas de expressão e criatividade em torno da pergunta: "Porque é que os homens não são felizes?".

O Grupo conta com o apoio da Junta de Freguesia da Ramada que gentimente nos permite a utilização do espaço central da rotunda, e do Pe. Arsénio Isidoro da Paróquia da Ramada.

Vamos apresentar aqui, ao longo destas semanas o trabalho desenvolvido. Esperamos que acompanhem e participem, discutindo ideias ou enviando sugestões.