quarta-feira, setembro 30, 2009

Muros - Infoexclusão

"Nenhum dos sites das 777 maiores empresas portuguesas em volume de negócios possui todos os requisitos que garantam o nível máximo de acessibilidade a pessoas com algum tipo de deficiência, segundo um estudo da Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade de Informação (APDSI).

A acessibilidade aos sites significa que pessoas com deficiências podem navegar e interagir na Internet, apesar das limitações visuais, auditivas, físicas, entre outras.

De acordo com o estudo do Grupo de Negócio Electrónico da APDSI, "nenhuma das [777] empresas avaliadas possuía o nível de acessibilidade 'AAA', ou seja, nenhum dos sítios Web avaliados está isento de erros".

Intitulado "Ponto de Situação das Maiores Empresas Portuguesas", o documento conclui que "apenas uma" das empresas avaliadas possuía o nível de acessibilidade 'AA', o nível de acessibilidade intermédio.

Apresentavam o nível de acessibilidade 'A', o nível mais básico, 73 empresas, o equivalente a 9,4 por cento do número total de empresas avaliadas no estudo.  (...)

O objectivo inicial deste trabalho era avaliar a acessibilidade dos sites das 1000 maiores empresas em Portugal em termos de volume de negócios, mas a amostra final do estudo acabou por ser constituída por 777 empresas."

Público

"A Infoexclusão em Portugal (Dados Eurostat 2005)

Mais de metade da população portuguesa não tem as competências básicas para a utilização de um computador (53% da população nunca usou um computador), sendo um dos países com maior nível de iliteracia a nível europeu.  

O nível de escolaridade da população é baixo e a percentagem da população sem acesso a formação profissional (interna ou externa) atinge os 70%.

A nova era da sociedade de informação é uma realidade em que apenas uma pequena percentagem da população tem acesso às novas tecnologias, em particular, à Internet.

Mais de metade dos Portugueses (54%) não têm quaisquer conhecimentos básicos de informática, constituindo uma das taxas mais elevadas da UE. Neste contexto, 22% têm conhecimentos de nível médio e apenas 13% têm conhecimentos elevados.

O número médio de computadores (... ) nas escolas públicas (...) com ligação à Internet é de 5,3%.

Em Portugal, dos 41,3% de agregados domésticos com computador, apenas 26,2% têm acesso à Internet. Na região de Lisboa, este valor sobe para 50,2% dos lares com computador e a ligação à Internet situa-se nos 33,4%.

Num universo de 3,4 milhões de utilizadores, cerca de 72% da população portuguesa não acede regularmente à Internet.

Quanto ao nível de escolaridade, 81% da população com formação educacional de nível superior utiliza regularmente a Internet, contra 77% da população com nível de escolaridade ao nível do secundário. A média de população com formação até ao 3º ciclo situa-se nos 16,4% e a taxa de utilização, por parte dos estudantes, sobe para os 94,5%.

Quanto à formação sobre utilização do computador, 84,6% da população afirma não ter qualquer formação tendo adquirido as competências por via da auto-aprendizagem, 83,5% recorreu à ajuda de colegas e amigos e apenas 51,3% obteve a sua formação com base em livros. Apenas 24,5 % dos portugueses frequentaram cursos de formação em informática há, pelo menos, mais de 3 anos."

AMI - Assistência Médica Internacional

segunda-feira, setembro 28, 2009

Muros: Claques de futebol


"A violência voltou aos estádios em Inglaterra. Londres foi ontem palco de um batalha violenta entre claques, durante a vitória (3-1) do West Ham sobre o seu maior rival, o Millwall, em jogo da Taça da Liga inglesa. Os feridos foram muitos, o mais grave vítima de esfaqueamento. 

O confronto, conhecido como “East London Derby”, é o mais sangrento da cidade, mas ninguém esparava por uma batalha campal que começou ainda dentro do estádio com três invasões de campo e muita bastonada policial para fazer dispersar os invasores. Foram precisos 200 policiais e 20 oficiais a cavalo para conter as centenas de adeptos no relvado.

Segundo um adeptos do West Ham a confusão começou ainda antes do apito inicial, quando viu um homem encurralado por pelo menos uma dúzia de torcedores do Millwall. “Parecia uma zona de guerra fora do estádio”, dizia um outro adepto.

Apesar do West Ham jogar na Premier League e o Millwall na terceira divisão, a rivalidade entre as duas equipas da capital inglesa é de tal ordem que já deu mote a um filme em Hollywood. “Holligans” retrata a rivalidade entre os dois clubes e foi motivo para as mais sangrentas batalhas já vistas em Londres.

O West Ham é outra vez notícia esta semana e sempre pelos piores motivos. As tragédias têm assolado o clube: Davemport, um jovem jogador da equipa foi esfaqueado nas pernas e pode ter de ser amputado, isto depois de o pai de um outro atleta ter morrido, num violento acidente, a caminho do Estádio para ver jogar o filho no fim-de-semana."

Diário de Notícias

domingo, setembro 27, 2009

Muros: Duas Coreias


Nota: A Zona Desmilitarizada ou DMZ designa uma zona tampão que separa a Coreia do Norte e do Sul, desde 1953, quando terminou a Guerra da Coreia, entre as facções do Norte, apoiadas pela União Soviética, e do Sul, apoiada pela O.N.U. e pelos E.U.A.. A Coreia foi ocupada no fim da segunda guerra mundial, estando até então sob o governo do Japão (que integrava as forças do Eixo), pelos Aliados, União Soviética, que chegou primeiro e ficou no Norte, e E.U.A. que chegou depois e ocupou o Sul.

"Aos coreanos que protestam contra o uso, por parte de americanos, de oficiais japoneses no seu país, o senador Elbert D. Thomas (D-Utah) enviou hoje a seguinte mensagem: «a independência coreana está a chegar.»

«A Coreia será governada por coreanos», disse Thomas, «mas vai levar algum tempo para substituir o governo que os tem dirigido há tanto tempo. O plano é trabalhar através do governo conquistado. Isto não tem nada a ver com a política futura.

Existe um governo coreano provisório em Chungking (China) e pelo menos duas facções coreanas na América. Não há nada estável na Coreia ainda. Tentar começar algo agora, mudar abruptamente, culminaria de certo no caos.»"

13/09/1945, The Deseret News/ Associated Press

"A Coreia é uma guerra em que os E.U.A. 1) em seis meses derrotaram decisivamente o agressor original, a Coreia do Norte; 2) tem lutado inconclusivamente nos últimos dois anos e meio com um segundo, a China Vermelha. É uma guerra internacional, posta como uma guerra civil, tomada em nome do «mundo livre». É a primeira guerra da O.N.U. a primeira guerra com aviões a jacto. (...)

Tem mantido os E.U.A. a lutar durante mais tempo que a 1ª Guerra Mundial; já costou aos E.U.A 22 biliões de dólares.

O custo humano é mais alto. Do lado da democracia:

Mortos em combate: 71 500. (...) Feridos: 250 000. Desaparecidos e capturados: 83 263. As perdas dos comunistas foram muito maiores, embora as estimativas da O.N.U. sejam pouco fiáveis: 1 347 000 mortos ou feridos.

A guerra para salvar a Coreia também matou 400 000 civis coreanos, deixou 500 000 casas destruídas sem reparação possível. Um quarto dos coreanos está desalojada, e 100 000 são orfãos; todos estão subalimentados. (...)

Na Ásia, os resultados da Coreia são menos tangíveis. A intervenção americana:

preveniu o comunismo de tomar toda a Coreia; destruiu a base do exército da China Vermelha, que de outra forma poderia ter tomado todo o Sudoeste Asiático. Se a Coreia não tivesse resitido, o próprio Japão podia já não existir; salvou os E.U.A. e os seus aliados do desastre sofrido quando foi permitido que a Checoslóvaquia caísse nas mãos de Hitler em 1938; assegurou ao mundo, especialmente a Taiwan e ao Japão, que os E.U.A. não tolerariam nova agressão comunista."

29/06/1953, Time


A Ordem Geral Nº 1, aprovada pelo Presidente dos Estados Unidos a 17 de Agosto de 1945, foi a primeira ordem do General Douglas MacArthur às forças do Império do Japão a seguir à sua rendição. Instruia as forças japonesas para se renderem a comandantes aliados designados, expor todas as suas actividades militares, e preparar o equipamento militar para posterior desarmamento.

Também é a fonte da moderna divisão da Coreia ao longo do paralelo 38 norte.

Ao emitir a Ordem Geral Nº1, os Estados Unidos confirmaram o seu papel como a principal força ocupante das áreas especificadas.

Wikipedia

"Artigo II A. Toda a actividade bélica para imediatamente até doze horas após a assinatura do armistício. Dentro de 72 horas, todas as tropas e equipamento de ambos os lados são retiradas de uma zona tampão de 2 milhas e meia de largura. Dentro de dez dias as forças aliadas retiram-se das ilhas a norte do paralelo 38. Rotação de 35 000 tropas por mês é permitida a cada lado, mas o nível das forças existentes não pode ser aumentado. Força aérea, peças de artilharia, etc., que estejam gastas, danificadas ou destruídas durante as tréguas podem ser substítuidas peça por peça."

3/8/1953, Time

"Durante uma rara visita à Coreia do Norte, uma equipa da ABC News visitou a Zona Desmilitarizada, a fronteira formal entre as Coreias do Norte e do Sul, criada quando terminou a Guerra da Coreia.

Dois milhões de pessoas foram mortas na guerra, incluindo cerca de 34 000 americanos. Meio século depois, a Zona Desmilitarizada - a DMZ - perdura como um símbolo da hostilidade e desconfiança que ainda existem. 

Ao entrar na DMZ a partir do norte hoje, uma equipa da ABC News conduziu ao longo de estradas cercadas por árvores e campos cultivados. Ouviam-se tiros à distância. Tal como a sua congénere do sul, o exército da Coreia do Norte ainda treina com munições reais.

«Eu culpo os E.U.A. pela divisão do nosso país» diz Kim Kwang Gil, um oficial norte coreano. «Foram os E.U.A. que começaram esta guerra em 1950.»

Na verdade, a maior parte dos historiadores dizem que foi a Coreia do Norte que atacou primeiro num conflito em que, em última análise, não se alcançou nada. Mas os norte coreanos dizem que a guerra foi uma grande vitória, pois acreditam terem expulso um invasor.

Por isso preservaram as mesas onde o armísticio foi assinado como uma espécie de monumento sobre o que vêem como humilhação americana.

Na DMZ, a linha de demarcação é índicada por um pequeno muro de cimento monitorizada por uma série de câmaras de vigilância. Tem efectivamente mantido o status quo há quase 52 anos - os norte-coreanos de um lado, os sul-coreanos e os americanos do outro.

Ultimamente as tensões na DMZ têm crescido, dizem os norte-coreanos.

Os americanos mudaram os exercícios militares defensivos na Coreia do Sul para exercícios ofensivos, disse Kim."

10/06/2005, ABC News

sábado, setembro 26, 2009

Muros - A abstenção, a desilusão, a indiferença e a ignorância

"A abstenção voltou a marcar a consulta popular, cujos níveis de participação foram inferiores aos das anteriores eleições para o Parlamento Europeu. Por indiferença dos eleitores, mas também por "castigo" e desilusão. 

«Muitas pessoas não votam porque nenhum candidato satisfaz os seus ideais, quer sociais, quer políticos». Dito isto, Frederico Brito, 38 anos, treinador de surf, tomou a prancha debaixo dos braços, desceu ao areal de Matosinhos e lançou-se ao mar. Eram 16 horas. A essa hora, a onda da abstenção crescia um pouco: tinham votado 26,8% dos eleitores, segundo a Direcção-Geral da Administração Interna, contra os 27,2% participantes no sufrágio de 13 de Junho de 2004.

«São sempre os mesmos!». Manuel Serrão, 60 anos, camionista, protesta: «Quando aparecer um partido que diga assim 'temos aqui um jovem que vamos eleger', eu voto». E vai ao passeio sob os plátanos no Marquês. Adiante, um rapaz segue com atenção uma partida de "sueca". Declina o testemunho de abstencionista, mas dispara a crítica: «Não voto! Eles que vão para as obras!» Um dos jogadores arruma em duas palavras uma exigência de "mais educação" ao rapaz. E segue a puxar uma manilha de paus.

Na marginal de Matosinhos, José Fernandes, 32 anos, empresário de móveis, saboreia um gelado e o sol que brinda os domingueiros entre nuvens. Desta vez, voltou as costas às urnas. «Há muita coisa que podia mudar e não mudou». Por isso castigou os políticos. Negou o voto a todos. Ora, se ele tivesse posto os pés a caminho da assembleia de voto, a mulher, Ana Sofia Santos, 32, trabalhadora-estudante (universitária) teria trocado as voltas cívicas. «Desta vez, iria votar num dos partidos pequenos, para castigar os grandes : nenhum me satisfez», justifica.

Mais abaixo, no areal, João Silva, 18 anos, estudante, deixa para trás as ondas e descansa da surfada. Nenhum partido o interessou, pelo que viu «nos tempos de antena». Os jovens vêem os tempos de antena? «Sim, no intervalo dos Morangos com açúcar!», brinca. 

Corre a tarde no centro comercial. Elisabete Machado, 28 anos, técnica de análises, desce as escadas ainda a pensar se vai votar. «Os políticos desiludiram-me bastante», justifica. O que esperava ver feito e não o foi? «Boa pergunta!..». Ao lado, o marido, Pedro Sousa, 31 anos, enfermeiro, provavelmente iria votar, mas repete a ladainha da descrença. Mas, pior, «não fomos bem esclarecidos sobre os objectivos para as europeias e sobre o que querem fazer»."

Jornal de Notícias

sexta-feira, setembro 25, 2009

Muros - New York, New York

"Agora via-se obrigado a abrandar. As quatro faixas estavam saturadas de trânsito. Quando o Mercedes subiu o grande arco da ponte, tornou-se visível, à esquerda, a ilha de Manhattan. As torres ficavam tão próximas umas das outras que se sentia a massa e o peso fantástico do conjunto. Ah, quantos milhões de pessoas, de todos os pontos do planeta, ansiavam por estar naquela ilha, naquelas torres, naquelas ruas estreitas! Era ali a Roma, a Paris, a Londres do século XX, a cidade da ambição, a densa rocha magnética, o destino irresistível de todos os que fazem questão de estar no lugar onde as coisas acontecem - e ele, Sherman, contava-se entre os vencedores! Vivia na Park Avenue, a rua de todos os sonhos! Trabalhava na Wall Street, cinquenta pisos acima do solo, na lendária Pierce&Pierce, abarcando com os olhos o mundo inteiro! Estava ao volante de uma utomóvel de 48 000 dólares, na companhia de uma das mais belas mulheres de Nova Iorque (...) ! (...)

- Achas mesmo que eu sou do tipo a quem se chama «miúda»?

- Apetece-me chamar-te miúda, miúda. Ali está a cidade de Nova Iorque.

- Achas mesmo que eu sou do tipo a quem se chama miúda?

- És o mais miúda que se possa imaginar, Maria. Onde é que queres jantar? Nova Iorque é toda tua.

- Sherman! Não era aqui que devias virar?

Ele olhou para a direita. Era verdade. Estava duas faixas à esquerda das faixas que davam para a saída de Manhattan, e não tinha qualquer hipótese de as alcançar. A sua faixa - a faixa a seguir - a outra - todas as faixas - eram procissões contínuas de automóveis e camiões, pára-choques contra pára-choques, avançando a passo de caracol em direcção à portagem, cem jardas mais à frente. Acima da portagem havia um enorme letreiro verde, iluminado por lâmpadas amarelas, que dizia: BRONX UPSTATE N. Y. NEW ENGLAND. (...)

- Em que direcção é que vamos?

- Em direcção ao Bronx.

(..)

- O que é que nós estamos a fazer, Sherman?

- Estou a tentar virar à esquerda, mas não há maneira de virar à esquerda nesta maldita estrada. (...)

À direita, sobre uns edifícios baixos e decrépitos, viu um cartaz que dizia:

ARMAZÉM DE CARNE

O MAIOR DO BRONX

Armazém de carne... nos confins do Bronx... Adiante, mais uma abertura no muro... (...) Prédios baixos, sem janelas... janelas e mais janelas entaipadas... (...)

Chegaram a um pequeno parque circundado por uma vedação de ferro. Tinha de se virar à direita ou à esquerda. As ruas cruzavam-se em ângulos bizarros. Sherman perdera por completo a noção do quadriculado da cidade. Aquilo já não parecia Nova Iorque. Parecia uma cidadezinha decadente da Nova Inglaterra. Voltou à esquerda.

(...)

Agora viam-se carros estacionados ao longo da rua... (...) Quanto mais se aproximavam, mais pessoas... no passeio, à porta das casas, no meio da rua... (...)

E se tivesse um furo? Se o motor ficasse afogado? Havia de ser bonito. (...)

Maria não dizia uma palavra. As preocupações da sua vida luxuosa resumiam-se agora a uma única. A existência humana só tinha um objectivo: sair do Bronx."

Tom Wolfe in A Fogueira das Vaidades (1987)

quinta-feira, setembro 24, 2009

Muros - fronteira México/EUA




A fotógrafa mexicana Maria Tereza Fernandéz trabalha há anos na fronteira entre os EUA e o México, onde famílias e amigos ficam divididos entre aqueles que conseguem e os que não conseguem emigrar, legal ou ilegalmente, para um país onde esperam encontrar uma vida melhor.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Muros - A nossa própria inércia



"Pois eu tenho estudado muito o nosso amigo Gonçalo Mendes. E sabem vocês (...) quem ele me lembra? (...) Talvez se riam. Mas eu sustento a semelhança. Aquele todo de Gonçalo (...)... Os fogachos e entusiasmos, que acabam logo em fumo (...) A esperança constante nalgum milagre, no velho milagre de Ourique, que sanará todas as dificuldades..."

Eça de Queiróz in A Ilustre Casa de Ramires

"sebastianismo - crença dos sebastianistas

sebastianista - pessoa que tinha fé no regresso de D. Sebastião, quando já não era possível ele existir;"

in Dicionário Completo de Língua Portuguesa, Texto Editores

terça-feira, setembro 22, 2009

Muros - Favelas


"Ocupado pela Polícia Militar desde novembro do ano passado , o Morro Dona Marta, em Botafogo, é o primeiro a receber um muro para conter a expansão da favela rumo à mata. Funcionários de uma empresa contratada pelo governo estadual já construíram 55 dos 634 metros previstos para a primeira fase do projeto. No dia 7 de abril, a Empresa de Obras Públicas (Emop) vai licitar o projeto que prevê a construção de um paredão de 2.800 que irá contornar a Rocinha. Até maio, serão licitadas as obras para outras nove comunidades, todas na Zona Sul. No total, serão mais de 11 mil metros de concreto para conter o surgimento de novas construções."

O Globo

"A construção de 11 quilómetros de paredes de betão em pelo menos 10 favelas no Rio de Janeiro, para conter o avanço sobre as áreas verdes, está a gerar polémica entre cariocas e movimentos sociais que temem uma política de apartheid.

«Fazemos a leitura de uma política de segregação do ponto de vista dos Direitos Humanos que segue a lógica da limpeza social e de uma política higienista», diz à Lusa Sandra Carvalho, directora executiva da organização não-governamental Justiça Global.

Sandra Carvalho afirma que o assunto está a preocupar os movimentos sociais e destaca que o ambiente é uma «desculpa para essa política de segregação». A proposta, adianta, é "barrar" o crescimento das favelas.

«Não é um argumento válido para proteger a mata», declara. «Daqui a pouco vão cercar toda a cidade», acrescenta a militante, criticando a política de "extrema violência" do Governo do Rio de Janeiro sobre as comunidades pobres. 

A polícia do Rio de Janeiro, indica Sandra Carvalho, é responsável por 18 por cento dos homicídios. «As pessoas são exterminadas, é uma matança. A proposta é cercar e, quem sair ou sobrar, mata-se»."

SIC/ Lusa

"Um perito da ONU acusa a construção de um muro em favelas no Rio de Janeiro de estar iniciando uma "discriminação geográfica" no País. Nesta quarta-feira, 6, o governo viveu um verdadeiro constrangimento na ONU ao tentar defender seus programas sociais, enquanto o Brasil era acusado de ser um "país da impunidade". Os peritos da entidade criticaram a corrupção e a falta de acesso da população a Justiça. Mas o maior constrangimento foi gerado pela falta de respostas claras do governo em relação aos problemas sociais enfrentados no País, o que deixou as Nações Unidas irritadas."

Estadão

"O governo viveu um constrangimento nessa quarta-feira (6) na Organização das Nações Unidas (ONU) ao tentar defender seus programas sociais, enquanto o Brasil era acusado de ser um “país da impunidade”. Os peritos da entidade criticaram a corrupção, a falta de acesso da população à Justiça e ainda denunciaram a construção de muros separando as favelas no Rio dos demais bairros.

«Estão fazendo muros entre favelas e bairros ricos. O que está sendo feito contra esses projetos?», questionou o perito da ONU Alvaro Tirado Mejiam, perante a delegação brasileira, durante sabatina para avaliar os programas sociais no País. Para Mejiam, com a construção de um muro em favelas no Rio, o Brasil está iniciando uma “discriminação geográfica”.""

Jornal do Comércio

segunda-feira, setembro 21, 2009

Muro - João Sem Medo

Era uma vez um rapaz chamado João que vivia em Chora‑Que‑Logo‑Bebes, exígua aldeia aninhada perto do Muro construído em redor da Floresta Branca onde os homens, perdidos dos enigmas da infância, haviam estalado uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos.

Apesar de ficar a pouca distância da povoação, ninguém se atrevia a devassar a floresta. Não só por se encontrar protegida pela altura descomunal do Muro, mas principalmente porque os choraquelogobebenses – infelizes chorincas que se lastimavam de manhã até a noite – mal tinham força para arrastar o bolor negro das sombras, quanto mais para se aventurarem a combater bichas de sete bocas, gigantes de cinco braços ou dragões de duas goelas. Preferiam choramingar, os maricas!, agachados em casebres sombrios, enquanto lá por fora chovia com persistência implacável (como se as nuvens estivessem forradas de olhos) e dos milhares e milhares de chorões – as árvores predilectas dessa gente – pingavam folhas tristes. Tudo isto incitava os habitantes da aldeia a andarem de monco caído, sempre constipados por causa da humidade, e a ouvirem com delícia canções de cemitério ganidas por cantores trajados de luto, ao som de instrumentos plangentes e monótonos.

O único que, talvez por capricho de contradizer o ambiente e instinto de refilar, resistia a esta choradeira pegada, era o nosso João que, em virtude duma contínua ostentação de bravata alegre e teimosa na luta, todos conheciam por João Sem Medo.


José Gomes Ferreira in Aventuras de João Sem Medo

domingo, setembro 20, 2009

Muros: Descriminação e violência

"Os 14 adolescentes, com idades entre os 13 e os 16 anos, acusados de terem espancado até à morte um travesti sem-abrigo, foram ouvidos esta manhã no Tribunal de Família e Menores do Porto. Chegaram muito cedo, para evitar os jornalistas, e pouco depois das 12 já todos tinham prestado declarações. As medidas cautelares a aplicar pelo juiz serão conhecidas hoje às 14 e 30 horas.

O jovem mais velho, de 16 anos, também foi ouvido esta manhã no Tribunal de Instrução Criminal. 

Quanto aos depoimentos prestados, tudo indica, segundo adiantam vários órgãos de informação, que o grau de culpabilidade dos jovens seja diferente, isto é, uns terão agredido o travesti sem-abrigo e outros terão atirado a vítima para um fosso, onde acabou por morrer. 

Sabe-se também que será o resultado da autópsia a determinar a gravidade do crime: se morreu por não ter recebido ajuda médica e devido ao seu estado de saúde débil ou se morreu vítima das agressões infligidas pelos jovens. 

O resultado da autópsia será também determinante na decisão do juiz que tem três hipóteses: ou entrega os jovens aos pais, ou entrega-os às instituições onde já estão ou opta por enviá-los para centros educativos. "

Diário IOL

sábado, setembro 19, 2009

Muros - Prisioneiros de guerra

Foto vencedora do World Press Photo 2003. Em Najaf, no Iraque, um homem conforta o filho num estabelecimento para prisioneiros de guerra.

Jean-Marc Bouju/The Associated Press

sexta-feira, setembro 18, 2009

Muros - Gerações



Father
Its not time to make a change,
Just relax, take it easy.
Youre still young, thats your fault,
Theres so much you have to know.
Find a girl, settle down,
If you want you can marry.
Look at me, I am old, but Im happy.

I was once like you are now, and I know that its not easy,
To be calm when youve found something going on.
But take your time, think a lot,
Why, think of everything youve got.
For you will still be here tomorrow, but your dreams may not.

Son
How can I try to explain, when I do he turns away again.
Its always been the same, same old story.
From the moment I could talk I was ordered to listen.
Now theres a way and I know that I have to go away.
I know I have to go.

Father
Its not time to make a change,
Just sit down, take it slowly.
Youre still young, thats your fault,
Theres so much you have to go through.
Find a girl, settle down,
If you want you can marry.
Look at me, I am old, but Im happy.
(son-- away away away, I know I have to
Make this decision alone - no)

Son
All the times that I cried, keeping all the things I knew inside,
Its hard, but its harder to ignore it.
If they were right, Id agree, but its them you know not me.
Now theres a way and I know that I have to go away.
I know I have to go.
(father-- stay stay stay, why must you go and
Make this decision alone? )

Muros - Acessibilidade


As Barreiras Arquitectónicas em Braga - Curta Metragem (Medicina na Universidade do Minho)

quarta-feira, setembro 16, 2009

Muros - O racismo no Zimbabwe

"A polémica que estalou a semana passada, virtualmente na véspera da XX olímpiadas em Munique, foi, possivelmente, a que mais divergências criou na conturbada histórai de 76 anos dos Jogos Modernos. Os governos de onze nações africanas negras, nomeadamente Quénia, Etiópia e Uganda, declararam que não iriam deixar os seus compatriotas competir se os Jogos se mantiverem abertos a atletas da Rodésia, de supremacia branca. (...) A ameaça de desistência por parte de nações africanas negras nos Jogos da Cidade do México de 1968 resultou na exclusão de atletas negros da racista África do Sul. (...) A situação da passada semana difere da disputa de 1968 porque as consequências de um boicote da África negra são muito mais alarmantes. Antes dos jogos de 1968, os atletas africanos negros não eram vistos como um factor relevante na competição internacional. Mas o Quénia, em particular, revelou-se nboo México como uma superpotência mundial nos eventos de pista masculinos, ganhando mais medalhas do que qualquer outra nação a seguir aos E.U.A. Este ano a equipa queniana aparece ainda mais forte, com novas estrelas para acompanhar os actuais campeões olímpicos Kipchoge Keino (na corrida dos 1500 metros), Naftali Temu (nos 10 000 metros) e Amos Biwott (nos 3000 metros obstáculos). A Etiópia também tem potenciais medalhas de ouro no actual campeão da maratona Mamo Wold e Miruz Yifter, um especialista das corridas de 5000 e 10 000 metros."

Time, 28/08/1972

"O governo britânico apoiou oficialmente um discurso feito ontem pelo Secretário de Estádio Kissinger na Zâmbia O discurso é visto como um esforço na tentativa de convencer os líderes negros africanos de que os E.U.A. favorecem um governo por parte da maioria negra na África do Sul. Kissinger mostrou a oposição dos E.U.A. ao regime de minoria branca de Ian Smith na Rodésia e disse que a administração Ford iria, entre outras acções, procurar interditar a importação de crómio da Rodésia. Um porta-voz do Gabinete dos Negócios Estrangeiros britânico mostrou-se agradado por Kissinger "ter enfatizado de novo o forte apoio do governo dos Estados Unidos relativamente à política do governo britânico na Rodésia". Avisou o regime de Ian Smith para levar em linha de conta o discurso de Kissinger."

The Virgin Islands Daily, 28/04/1976

"A acusação; ocultar a localização de guerrilhas nacionalistas negras. O arguido; o bispo católico romano de Umtali, Rodésia, Donal Lamont foi ontem sentenciado a dez anos de prisão por ocultar a localização de revolucionários negros da Rodésia. Lamont admitiu ao tribunal não ter denunciado a presença de guerrilhas perto de uma missão na sua Sé. Também reconheceu ter incitado outros a fazer o mesmo."

The Virgin Islands Daily, 2/10/1976

[De leitores:]

"Face aos repetidos ataques da guerrilha marxista do vizinho Moçambique, o governo rodesiano tem-se mantido firme na sua resolução e o regime de Smith mantém-se como um dos poucos em África livre da penetração soviética.

Se o governo da Rodésia prosseguir com a proposta de Kissinger, a possibilidade de grupos terrorista e dos chamados "grupos de libertação" montarem ofensivas pode representar uma ameaça séria às nações do mundo livre."

"Não mencionaram Donal Lamont, o bispo católico romano rodesiano. Lamont acabou de receber uma pena de dez anos por encorajar o seu pessoal médico a oferer assistência a todos, brancos ou negros.

Como disse o bispo Lamont: «Aquele que se mantem em silêncio está condenado.»"

Time, 1/11/1976

"Ontem um guarda branco acenou e gritou um comando firme e 100 prisioneiros políticos negros saíram da prisão pelo portão de arame farpado, para os autocarros de regresso a casa e à liberdade.

Outros 361 serão libertados em breve segundo o plano do  governo de transição rodesiano para melhorar as relações entre brancos e negros e facilitar o caminho para uma administração da maioria negra que será realidade pelo fim deste ano. Cerca de 500 outros estão ainda na prisão."

Pittsburgh Post-Gazette, 14,04/1078

"Parte do acordo para terminar a longa guerra civil no Zimbabwe foi um programa de ajuda internacional para ajudar a nação a recuperar. Na última semana o Zimbabwe beneficiou de uma dessas mostras de compaixão através da escrita de cheques. Numa memorável reunião de passagem do testemunho em Salisbury, representantes de 36 países - alguns dos quais em não muito melhor condição que o próprio Zimbabwe - comprometeram-se com quase 1.4 biliões de dólares em ajuda à nação outrora conhecida como Rodésia. Até a pequena e pobre Sierra Leone entrou com $90 000. Mas o apoio que provavelmente mais agradou ao Zimbabwe veio dos E.U.A.: 225 milhões de dólares nos próximos três anos. «A criação do Zimbabwe é um dos mais notáveis sucessos políticos e diplomáticos da nossa geração.» declarou o representante dos E.U.A. M. Peter McPherson, recentemente apontado para a direcção da Agência para o Desenvolvimento Internacional. «Ao comprometermo-nos a dar o nosso apoio estamos também a dar apoio para resoluções pacíficas para conflitos internacionais.»"

Time, 6/4/1981

"Invasores negros brandindo, paus e pedras atacaram outra fazenda de propriedade branca hoje, destruindo janelas, incendiando as casas dos trabalhadores e espancando cães até à morte. O presidente Robert Mugabe, que tem mostrado o seu apoio aos invasores, disse hoje que não tinha quaisquer planos para destacar polícias ou soldados.

Os líderes dos invasores prometeram quarta-feira parar a violência crescente mas que não iriam deixar as centenas de quintas que ocuparam desde Fevereiro."

Associated Press, 20/4/2000

"Os Estados Unidos lamentam a caracterização dos fazendeiros brancos por parte do presidente do Zimbabwe Robert Mugabe como inimigos do povo do Zimbabwe. Tais afirmações só podem contribuir para o aumento de violência e erosão do cumprimento da lei no Zimbabwe. Os cidadãos zimbabuanos tem o direito constitucional de se associarem ao partido da sua escolha. A democracia só pode ser desenvolvida num clima de tolerância política."

M2 Presswire, 20/4/2000

"Um serviço fúnebre foi hoje organizado no Zimbabwe em memória de David Stevens, o primeiro de dois fazendeiros brancos que foram mortos durante os tumultos presentes relativos à ocupação de terras.

Foi atingido a tiro pelos ocupantes que invadiram a sua fazenda há 10 dias.

Deste então, vários activistas da oposição e outro fazendeiro branco foram mortos e muitos trabalhadores atacados pelos invasores e veteranos de guerra."

BBC News, 25/4/2000

"A campanha eleitoral, na qual foi permitido à oposição fazer campanha de forma mais ou menos livre, sugeria que o regime estava a perder a sua força, ou que pelo menos estava dividido e incapaz de reprimir. Os dias que se seguiram ao 29 de Março mostraram sinais ainda mais auspiciosos. A oposição declarou vitória, e Tsvangirai declarou até a aurora de «um novo Zimbabwe fundado na restauração, não retribuição, igualdade, não discriminação, amor, não guerra, tolerância, não ódio.» Declarou até, «depois de domingo 29 de Março de 2008, Zimbabwe nunca mais será o mesmo.» Infelismente para o Zimbabwe, Mugabe e o Zanu-PF parecem ter estado apenas a digerir a sua derrota e a planear o seu futuro. E parecem ter concluído que o seu futuro depende do Zimbabwe continuar exactamente onde está."

Times, 7/4/2008