domingo, maio 14, 2006

Um poema da Sophia


Escuto




Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou Deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética III

1 comentário:

Anónimo disse...

Além do poema ser lindo na sua simplicidade e riqueza de significado, identifico-me com o texto. O silêncio é algo de muito mais vasto do que a maioria pensa e ísso é o mais fascinante de tudo.
O silêncio pode ter tanto ou até mais poder, mais impacto do que a palavra dita, pois na ausência de som a que chamamos silêncio está contido todo um conjunto de pensamentos, sentimentos e sensações mudos, todo um mundo de informação que não é expressa por variados motivos. o silêncio só surge quando alguém o interpreta e o torna seu. O valor do silêncio é nulo. Só existe na medida do valor que alguém lhe dá. Cada indivíduo tem a sua própria interpretação.
*sus