«Muitas pessoas não votam porque nenhum candidato satisfaz os seus ideais, quer sociais, quer políticos». Dito isto, Frederico Brito, 38 anos, treinador de surf, tomou a prancha debaixo dos braços, desceu ao areal de Matosinhos e lançou-se ao mar. Eram 16 horas. A essa hora, a onda da abstenção crescia um pouco: tinham votado 26,8% dos eleitores, segundo a Direcção-Geral da Administração Interna, contra os 27,2% participantes no sufrágio de 13 de Junho de 2004.
«São sempre os mesmos!». Manuel Serrão, 60 anos, camionista, protesta: «Quando aparecer um partido que diga assim 'temos aqui um jovem que vamos eleger', eu voto». E vai ao passeio sob os plátanos no Marquês. Adiante, um rapaz segue com atenção uma partida de "sueca". Declina o testemunho de abstencionista, mas dispara a crítica: «Não voto! Eles que vão para as obras!» Um dos jogadores arruma em duas palavras uma exigência de "mais educação" ao rapaz. E segue a puxar uma manilha de paus.
Na marginal de Matosinhos, José Fernandes, 32 anos, empresário de móveis, saboreia um gelado e o sol que brinda os domingueiros entre nuvens. Desta vez, voltou as costas às urnas. «Há muita coisa que podia mudar e não mudou». Por isso castigou os políticos. Negou o voto a todos. Ora, se ele tivesse posto os pés a caminho da assembleia de voto, a mulher, Ana Sofia Santos, 32, trabalhadora-estudante (universitária) teria trocado as voltas cívicas. «Desta vez, iria votar num dos partidos pequenos, para castigar os grandes : nenhum me satisfez», justifica.
Mais abaixo, no areal, João Silva, 18 anos, estudante, deixa para trás as ondas e descansa da surfada. Nenhum partido o interessou, pelo que viu «nos tempos de antena». Os jovens vêem os tempos de antena? «Sim, no intervalo dos Morangos com açúcar!», brinca.
Corre a tarde no centro comercial. Elisabete Machado, 28 anos, técnica de análises, desce as escadas ainda a pensar se vai votar. «Os políticos desiludiram-me bastante», justifica. O que esperava ver feito e não o foi? «Boa pergunta!..». Ao lado, o marido, Pedro Sousa, 31 anos, enfermeiro, provavelmente iria votar, mas repete a ladainha da descrença. Mas, pior, «não fomos bem esclarecidos sobre os objectivos para as europeias e sobre o que querem fazer»."
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